quinta-feira, 14 de maio de 2009

CONCLUSÃO



léa anastassakis




Prá que preciso de inimigos?
Se quem me ama
Me pode dar
Todo esse sofrimento...



domingo, 10 de maio de 2009

CONCESSÃO


léa anastassakis



Como negar o que tanto pedes
Como vetar um sonho tão sonhado
Como erguer barreiras, trancar portas
Obstruir caminhos
Se queres prazer, receber e dar
Se queres risos, alegria, afeto
Se me dás o que mais quero: amar.

Mesmo que eu queira só a ti, sozinha
Como negar a presença que nos cerca?
De que não abdicastes
Que te povoa os sonhos
Que te treme a carne
Senão deixando que vivas tal realidade?

Mas não posso negar
O peso que me invade
O frio que me gela
O tremor que me sacode
De medo, de ciúme;
Senão por ti, posso suportá-los.

Não te posso dizer não.
Não é pela minha negação
Que quero que não faças
Só me satisfaz um não vindo de ti
Da tua vontade, do teu amor
Espontâneo, tanto quanto hoje é o teu desejo

Quando entenderes
O que me custa ver-te aos beijos
Faminto de outra carne, mesmo junto à minha,
Quando sentires na carne a minha dor
Como sinto o teu tesão na minha.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

TECELÃ


léa anastassakis


Como no mito grego
Ela esperava e tecia
Até que as lágrimas cegassem
O que via
E todo encharcasse
O tapete que fazia...

Mas não tinha a fibra
Da que esperava Ulisses.
Cada vez menos tapete
E mais lágrimas produzia
Já que a fibra encolhia...

E foram tantos dias
Retecendo o fio que minguava
Por força das águas que vertia
Que ao dar-se conta
Só restava uma ponta
Bastante para enlaçá-la
E ergue-la sob aquela trava...

domingo, 3 de maio de 2009

MISSÃO NO AMOR

léa anastassakis

Precisamos acender todas as velas do mundo...
È verdade que pouco faremos
Mas precisamos cumprir nossa tarefa.
Já sabemos dos sorrisos de escárnio,
Da maledicência e da intriga,
Sabemos das costas viradas à nossa passagem
E do desprezo aos nossos passos, sempre unidos...
Caminharemos procurando lhes dizer do amor,
Das nossas vidas, da esperança e da alegria,
Sorriremos a todos, iluminados por esse carinho...
Se for preciso, seremos até ferozes, prá que entendam
Reacenderemos a cada instante as luzes apagadas
As luzes das velas são tão frágeis...
Mas, juntos, não importará a fadiga.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

DESESPERO


léa anastassakis


Os versos sobem pelas paredes
E cantam aos meus ouvidos sonetos bestiais.
Os vermes do chão comem meus pés
As mãos e o peito. (Pior que tudo, o peito).
Corro. Atrás de mim, o medo. É cedo.
A madrugada me cerca e me sufoca.
No peito, cresce a ferida. Sou quase morta...

A morte, de onde parte, tão longe, que não chega?
Esses duendes invadem-me a cabeça.
Já nada vejo, essa tristeza negra!

Tateio. Há teias de aranha na parede,
E em mim também hão de haver, as vejo!
Cercam-me, tecendo-me a mortalha.
E a morte, por que tarda?
Dá-me tempo de ainda ter anseio,
De sonhar com coisa que não creio?
Quero partir de vez, deixar de ser,
Mas não ficar morrendo, aos poucos, pra viver...