segunda-feira, 13 de agosto de 2018

ABSTRATEMPO



Resultado de imagem para IMAGENS ESPIRAIS                       


ABSTRATEMPO
                léa anastassakis

Por que persistimos
Em marcar no relógio o tempo
Como se fosse algo apreensível
Ou traduzível em qualquer medida
Podendo assim ser aferido
Em fórmula final indiscutível?

Quanto dura o minuto
De um beijo
Da espera de socorro
Do embarque do filho
Da união dos corpos?

Não haverá um só minuto
Equiparável a qualquer outro
Se um se expande em desespero
Outro se encolhe num festejo
Enquanto um é perda, o outro é ouro.

Se este flutua, é barco à deriva,
Por força das águas conduzido
Aquele plaina, tal folha ao vento
Que nas viradas da pressão oscila
Outro como peixe ensaboado
Pelas nossas mãos vai escorrendo
E num instante ei-lo então perdido.

O tempo não nos dá tempo
Para observá-lo por um tempo
Ou prendê-lo com alfinete
Numa folha de pesquisa
Para estudá-lo como faríamos
Com a borboleta ou o besouro

Numa situação ele é demais
Noutra é de menos
Mas ao fim nos sujeita sempre
Podendo nos fazer quais loucos
Ora é inimigo que jamais vencemos
Ora o buscamos como a um tesouro
E por mais que o persigamos
Em tempo algum o alcançamos a tempo
De desfazer o mal que praticamos
Ou refazer o que jamais fizemos.

12 abril de 2015 às 23:43, domingo