quarta-feira, 12 de setembro de 2012

DIFERENCIDADE





Fomos forjados sob o lema da igualdade. Desde a Revolução Francesa, esse bordão vem sendo martelado na nossa cabeça, nos nossos ossos, nos nossos sentimentos. Tornou-se tão corriqueiro que, mesmo quando nos defrontamos com a mais incrível desigualdade, não reparamos, não nos damos conta, não nos abalamos, portanto. Algumas vezes, vem alguém e nos sopra ao ouvido uma observação mais acurada sobre o fato e, então, de repente, nos damos conta da nossa falta de atenção. Como pode? É mesmo!!!

E lá vamos nós, vivendo a nossa vidinha e circulando, diariamente, por entre flagrantes desigualdades, desapercebidos, autômatos e, talvez, até, entabulando uma profunda conversa sobre a importância da igualdade.

A coisa se repete por círculos. Na Justiça, onde ouvimos que a Lei é igual para todos, ou em quaisquer rincões da nossa cidade, onde aprendemos que todos têm direito à moradia, à educação, à segurança, ao livre trânsito. Vai ver. Observa. Sem muito esforço. Cadê?

Lógico que a Lei não é igual para todos. Se posso pagar um senhor advogado, posso matar, roubar, fazer misérias, que ficarei livre, e meu processo terá tantas recorrências, que conseguirei manter-me livre até o meu suspiro final. Isso, vemos acontecer todos os dias.

Passo o meu olhar pelas minhas vizinhanças e vejo favelas sem quaisquer condições de salubridade, crianças em idade escolar nas esquinas e nos becos cheirando cola, fumando craque, pessoas morrendo nas filas dos nossos hospitais, pessoas que jamais circularam por teatros, pontos turísticos, museus, ou qualquer lugar mais sofisticado cuja entrada não estão aptos a pagar. Ou talvez impossibilitados de circular em certos lugares, porque suas vestes, seu porte, sua nítida curiosidade, que fazem com que sejam tomados por suspeitos.

Se for mais fundo, chego à escola e ao lar. Na escola, as crianças têm que ser iguais, caso contrário, serão discriminadas. (Não falo do uniforme escolar, com o qual até concordo), mas a igualdade que os amiguinhos cobram sobre a marca do tênis, da mochila, dos cadernos, dos lápis. Nas festinhas, as crianças não podem ir com roupa que não seja da marca da onda, por que, então, estarão “por fora”. Não estou nem chegando à imposição de certas atitudes, que lhes são exigidas para poderem ter parte no grupo; como fumar, beber, experimentar drogas, deixar de ser virgem, beijar não sei quantos na festinha, e coisas do gênero.

Assim também com os brinquedos, têm que ter os que estão na moda, mesmo que não se tenha muito gosto em brincar com eles, e possam ser, e serão, rapidamente substituídos, não deixando qualquer marca mais sensível nas suas lembranças. Os pais reforçam essas estandardizações, na convicção de que assim ajudam seus filhos a serem incluídos nos grupos. E sabemos como as crianças podem ser cruéis umas com as outras. E sabemos também como, na idade escolar, somos carentes da aprovação do grupo. E toma-lhe IGUALDADE.

Se alguém é diferente, na cor, no tamanho, na maneira de falar, de se vestir, de se comportar, lá vem o BULLING. Nome novo para problema muito antigo. A única saída é tentar se igualar, entrar na onda, o que muitos fazem, abdicando de suas idiossincrasias pelo aceite do grupo. Se a criança não abre mão das suas peculiaridades é, mais e mais, afastada, discriminada, escrachada. É preciso ter muita personalidade para assumir a própria personalidade, para se manter autêntico, para persistir nas suas idiotices, nas suas próprias escolhas.

Por isso, prefiro pregar a diferencidade. Afinal, somos todos diferentes (graças a Deus!). Diferença é riqueza, é instigação, é pesquisa, é descoberta, é movimento, é transformação. Nada mais chato do que alguém muito parecido com a gente.

O diferente nos atrai. Exatamente por isso, temos medo. Medo do novo, do instigante, da necessidade de mudança, como se não mudássemos todas as células de nosso corpo em períodos bem curtos. É que é mais fácil mudar o corpo que o espírito. Esse é aferrado, persistente, ainda mais com a ajuda de toda a lavagem cerebral que nos fazem para perseguirmos a igualdade.
A mídia trabalha nisso todo santo dia, daí porque precisamos trocar de carro, de celular, de computador, de TV, de geladeira, de roupa, de sapato, de pasta de dente, de creme para os cabelos, de esmalte para as unhas. Senão, ficamos diferentes, por fora. Então, consumimos, mesmo sem dinheiro, sem vontade, sem necessidade. Essa é a ordem. Precisamos nos alinhar com a massa, nos confundir com ela, etiquetados como produtos em série.
Atualmente, com as redes sociais, as pessoas ficam bisbilhotando umas às outras, e, muitas, buscando no outro um espelho onde possam encetar sua concepção pessoal. O que eles estão fazendo (até o que estão pensando), aonde vão, como se vestem, com quem trocam idéias? etc, etc...

Tudo que é diferente é tachado de ANORMAL. Como se houvesse uma norma, uma regra para existirmos. Normal não existe. É valor estatístico, resultante da contabilização das inúmeras diferenças. Estas, sim, reais.

Somos diferentes, graças a Deus. Na realidade somos, cada um de nós, fora dos parâmetros, fora dos padrões, não normais. Um pouco gordas, um tanto baixinhas, com certa inteligência, bastante bonitas, um tanto ou quanto louquinhas, mais ou menos fieis, não toda mulher. E assim somos. Como somos. Diferentes. Por natureza, e por opção.

Diferencidade  implica em nos reconhecermos e nos aceitarmos como diferentes, mas, principalmente, em acatarmos e respeitarmos as diferenças de todos os outros humanos. Sem exigirmos, de nós próprios ou de quem quer que seja, a abdicação do seu jeito de ser em favor de um enquadramento a qualquer padrão.

E sendo diferentes, lutarmos por oportunidades, por direitos, condizentes com nossa capacidade, capacitação, desempenho, iniciativa, esforço, persistência, eficácia. Isso não significa que os direitos tenham que ser todos iguais, mas que todos, e cada um, devem ter seus direitos garantidos, e proporcionais ao seu empenho em agir pelo bem estar comum, que implicam no direito a um lar, saúde, educação, segurança, trabalho e lazer. E, acima de tudo, o direito à liberdade, de expressão, de circulação, de religião, de opção sexual, de estilo de vida, sempre que não seja empecilho à liberdade dos demais.

Isso não significa que não devamos mudar. Pelo contrário, podemos e devemos mudar de acordo com a nossa maneira de ser, em busca do que nos faça mais felizes. E não para tentarmos ser como são os outros ou para ser como os outros desejariam que fôssemos. Sempre cientes de que vivemos em sociedade, que esta tem seus costumes, sua cultura, suas leis, suas instituições, e que, apesar de não precisarmos nos enquadrar estritamente ao que tal cultura implica, sempre teremos que tomá-la em consideração, buscando um nível de harmonização compatível com nosso estilo de vida. 

A não ser que optemos por viver fora de qualquer sociedade, isolados nos picos das grandes cordilheiras, ou no interior dos grandes desertos. Sei lá, até porque, mesmo nos anecúmenos sempre se estará em um território onde vigorará algum tipo de lei. Só poderíamos fazer a totalidade do que desejamos se estivéssemos estritamente sós. O que no planeta Terra está bem difícil, especialmente com o celular, a internet, etc. 

E, DEPOIS, ASSIM, NÃO TERIA GRAÇA NENHUMA


QUANDO SONHO



As fadas vão comigo
Quando ergo os calcanhares
E num impulso, com leveza
Elevo o corpo pelos ares
Alçando voo sobre edifícios
flutuo acima das árvores
E me extasio com a beleza
Da Natureza e do gênio humano.

Sou leve, é fácil o movimento
Me guia o pensamento
deslizo, passeio
Sobre campos e cidades
Repletos de surpresa.

Meu corpo não tem peso
É dócil e obedece
vontade e anseio.
Sou só felicidade,
Sou toda liberdade,
Existo por inteiro.